quinta-feira, 25 de abril de 2024

A comuna e o voto.

 


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Qui, 25/04/2024 12:08

quarta-feira, 24 de abril de 2024

O papel do revolucionário no século XXI.

 

David Harvey e o papel do revolucionário do século XXI

Humberto Matos comenta "Crônicas anticapitalistas", nova obra do teórico marxista David Harvey, que chega primeiro para os assinantes do Armas da crítica, o clube do livro da Boitempo.

Por Humberto Matos

David Harvey é um dos mais influentes teóricos marxistas do século XXI. Aos 88 anos e com mais de vinte livros publicados – entre eles a famosa avaliação do novo imperialismo, os importantes escritos sobre o neoliberalismo e os conhecidos comentários sobre a crítica da economia política de Marx –, ele desde cedo se mostrou sensível à importância de usar o espaço da internet como ferramenta de educação popular e democratização do saber, a exemplo de seu célebre curso sobre capital, traduzido para quarenta e cinco idiomas.

Estas Crônicas anticapitalistas derivam de um projeto de podcast em que o professor emérito de antropologia e ciências ambientais e da Terra utiliza de sua projeção para se debruçar sobre o mundo contemporâneo a partir das lentes do marxismo. Dirigido a jovens e veteranos, acadêmicos e militantes, iniciantes e iniciados, o livro traz uma abordagem ampla e contundente sobre a dinâmica de reprodução do capital e sua sanha de crescimento infinito. Colocando a natureza do capitalismo como insustentável e causadora do atual esgotamento climático e político, Harvey  demonstra a necessidade de uma interpretação mais robusta das diversas frentes da luta anticapitalista hoje.

A perspectiva da geografia, por exemplo, permite focalizar fenômenos como o choque entre as potências capitalistas centrais e a China comunista. Aqui, o autor revê parte de suas posições acerca do gigante asiático. Analisando seus processos socioeconômicos comandados pelo Partido Comunista, Harvey defende que há uma necessidade constante de reprodução ampliada do capital no mundo contemporâneo e que a China ocupa uma posição de destaque, inclusive na manutenção do próprio capitalismo. Entretanto, a lógica e o compromisso dos chineses com o socialismo, assim como a nova formação econômica surgida no sudeste asiático, levam o autor a refletir sobre os limites da organização política e econômica do mundo, bem como o papel dos marxistas nessa nova Guerra Fria.

Harvey sintetiza avaliações de conjuntura e debates teóricos muito avançados em linguagem fluida e acessível. Realizando uma nova interpretação de antigos conhecimentos do campo marxista, este livro traz um balanço fundamental do que sabemos e do que precisamos aprender para construir um futuro de superação do capitalismo. Atual e imponente, é obra imperdível para quem se interessa por marxismo e geopolítica. Acessível e original, é leitura indispensável para compreender o papel do revolucionário do século XXI.


Inspirado nas Crônicas anticapitalistas, podcast quinzenal em que David Harvey analisa as atuais conjunturas política, social e econômica global, a obra homônima apresenta ao leitor um sobrevoo acessível e aprofundado de assuntos variados como o neoliberalismo pós-crise de 2008, a ascensão da extrema-direita no mundo, o papel da China na economia, as mudanças climáticas, o mundo pós-covid e, claro, o futuro do socialismo.

Sem deixar de lado a análise marxista, que é parte fundamental de sua obra, Harvey perpassa conceitos essenciais como alienação, acumulação primitiva, financeirização, etc. Com uma linguagem acessível, própria da oralidade, o autor apresenta novas maneiras de entender a crise do capitalismo global e as lutas por um futuro melhor.

Ao mesmo tempo em que aborda assuntos espinhosos, Harvey também narra a esperança e a possibilidade de inventarmos alternativas para o futuro. Ele descreve, com brilhantismo característico, como as alternativas socialistas estão sendo imaginadas em circunstâncias muito difíceis. Ao entender as dimensões econômicas, políticas e sociais da crise, a análise do geógrafo em Crônicas anticapitalistas será de importância estratégica para qualquer pessoa que queira compreender e mudar o mundo.

Crônicas anticapitalistas tem tradução de Artur Renzo e texto de orelha de Humberto Matos.

Democracia americana.

 

Universidade de Columbia ameaça usar Forças Armadas contra estudantes pró-Palestina

Estudantes denunciaram que intimidação da faculdade rompeu negociações no campus

O coletivo Estudantes de Columbia pela Justiça na Palestina (CUAD, na sigla em inglês) denunciou na madrugada desta quarta-feira (24/04) que a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, intimidou os alunos com uso da força ao ameaçar chamar as Forças Armadas dos Estados Unidos caso permaneçam protestando contra o genocídio palestino promovido por Israel na Faixa de Gaza.

“A Universidade de Columbia ameaçou os negociadores da CUAD de chamar a Guarda Nacional e a polícia de Nova Iorque (NYPD) se não concordarmos com suas exigências”, anunciou o comunicado de imprensa do coletivo pró-Palestina, que se mantém em acampamento no campus como forma de protesto.

Classificando a coação como “ameaça perturbadora da universidade sobre uma escalada de violência”, os estudantes que têm promovido manifestações no campus de Morningside contra a guerra em Gaza e o financiamento norte-americano para a violência afirmaram que continuam “firmes em suas convicções pela libertação palestina e não serão intimidados pela ameaça”.

O comunicado do CUAD informou que a ameaça da Universidade de Columbia foi feita durante uma mesa de negociação entre a faculdade e o coletivo. Assim, os representantes da organização deixaram a mesa e se recusaram a retornar até que haja um compromisso por escrito de que a administração não acionará a polícia de Nova York ou a Guarda Nacional contra seus alunos.

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O coletivo pró-Palestina justificou sua resistência contra a chamada do exército norte-americano porque “ao longo da história, vimos manifestantes pacíficos serem violentamente reprimidos e atacados pela Guarda Nacional: desde manifestantes do Black Lives Matter em Ferguson, Missouri, até estudantes que protestavam contra a Guerra do Vietnã na Kent State, em Ohio”.

Os estudantes denunciam que os manifestantes nessas ocasiões “foram brutalmente espancados e assassinados por se manifestarem pacificamente contra a guerra e a destruição”.

Uma das representantes do CUADA, Sofia Ong’ele, argumentou sobre a decisão da coalizão, afirmando que o coletivo é “diversificado com estudantes predominantemente negros, pardos e judeus, que correm sério risco de sofrer violência policial”.

A ameaça da Universidade de Columbia em recrutar o exército dos Estados Unidos para combater a resistência dos estudantes acontece no sétimo dia de protestos. No entanto, não é a primeira intimidação com violência policial.

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No segundo de manifestação, no sábado (20/04), a universidade chamou a polícia de Nova Iorque para remover à força mais de cem estudantes que protestavam contra os “ataques genocidas de Israel a Gaza”.

Read Dr.Gerald Horne/Twitter
Mais de cem estudantes pró-Palestina na Universidade de Columbia já foram detidos

O coletivo ainda questiona o desejo da universidade em querer voltar à normalidade das aulas: “como se o assassinato de mais de 30.000 palestinos – a maioria dos quais são mulheres e crianças – e a destruição sistemática de todas as universidades de Gaza pudesse ser interpretada como “normalidade”.

“Nós nos recusamos a aceitar um mundo em que o massacre em massa de palestinos seja visto como aceitável, normal e lucrativo. Recusamos a aceitar a cumplicidade da Universidade de Columbia com o genocídio”, finalizou o comunicado.

Columbia compra denúncia de antissemitismo

Por sua vez, a Universidade de Columbia não fez nenhuma declaração oficial sobre a ameaça com as Forças Armadas contra os alunos. Desde o início das manifestações, na última semana, o primeiro posicionamento da faculdade foi nesta segunda-feira (22/04), com a declaração do presidente do instituto, Minouche Shafik.

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No documento, Shafik declarou estar “profundamente triste” com a situação no campus, pendendo sua posição para o lado do “receio pela segurança dos alunos”.

Avaliando especificamente as manifestações pró-Palestina, o presidente de Columbia avaliou os protestos como “tensões exploradas e amplificadas por indivíduos não afiliados à Columbia que vieram ao campus para perseguir os seus próprios objetivos”.

Também mencionou “exemplos de comportamento intimidador e de assédio no campus”, apelando para o discurso da “linguagem anti-semita” nas manifestações.

Ao falar sobre a guerra em Gaza, Shafik afirmou que “há um conflito terrível que assola o Oriente Médio”, mas que não pode permitir que “um grupo [em Columbia] dite os termos e tente interromper marcos importantes como a formatura para promover o seu ponto de vista”.

Na tentativa de voltar à normalidade das aulas, o presidente chamou por aulas ministradas virtualmente e que apenas o “pessoal essencial” comparecesse ao campus para trabalhar, além de orientar que os alunos que residem nos alojamentos da universidade não fossem até lá.

O pronunciamento do presidente também chamou por uma mesa de negociação “para concluir pacificamente o mandato e regressar a um envolvimento respeitoso uns com os outros”, que, no entanto, foi finalizada com as ameaças recebidas pelos estudantes.

Já o segundo, e até o momento, último posicionamento da universidade, foi nesta terça-feira (23/04), com mais uma declaração do presidente Shafik, ao afirmar que apoia “plenamente a importância da liberdade de expressão, respeita o direito de manifestação e reconhece que muitos dos manifestantes se reuniram pacificamente”.

Mas pondera que os protestos pró-Palestina “levanta sérias preocupações de segurança, perturba a vida no campus e criou um ambiente tenso e por vezes hostil”, de forma que era “essencial um plano para desmantelá-los”.

Nessa declaração, o representante disse que o CUAD e a universidade tinham até meia noite desta quarta-feira (24/04) para concluir as negociações, “caso contrário, opções alternativas para limpar o gramado [dos acampamentos dos manifestantes]” precisariam ser consideradas.

Shafik ainda agradeceu “o apoio das autoridades municipais e estaduais na gestão da crise”, de forma que na segunda-feira (22/04), a governadora de Nova Iorque, a democrata Kathy Hochul, visitou o campus, convocou a prefeitura, a polícia e Shafik para “discutir a necessidade de combater o anti-semitismo e proteger a segurança pública”.